24 de fevereiro de 2012

Obstinação.

     Morava no segundo andar de uma moradia velha e cheia de fantasmas. Subia as escadas recentemente remodeladas com uma típica apatia. Era dentro de casa que a madeira comprimida causava a fricção, e por conseguinte, um ruído que ecoava no pavilhão auditivo. Irascível, eu, contorcido em expressões faciais quase escolhia, cirurgicamente, o local onde, pé ante pé, iria assentar o próximo passo pelo meu, ou aquele, corredor fora. 
     Tinha acabado de me afundar na poltrona de couro. Tanta amabilidade na textura desta cadeira, situada no centro da sala, faziam com que se tornasse desconfortável. Estava instalado e tinha o meu tenaz pensamento. Este último, cada vez mais enaltecia os prazeres do corpo, o erotismo, em detrimento do desejo e deleite da formalidade de um diálogo.
     Eu já tinha passado pelo campo de minas, quando, de novo comecei a ouvir um som de um qualquer soalho ruidoso. Próximo, porém. E assim estava sentado, eu, encantado com a visita que se encontrava descalça e apoiada levemente na entrada da sala. Pela primeira e última vez, o soalho sibilava belas palavras, gritavam-me aproximação. Gritei áspera e rispidamente que desfizesse as malas. Não estivesse eu a cuspir um pecado, o pecado do toque severo.