14 de dezembro de 2009

Irmandade.

    
     Certo dia contaram-me uma história de irmandade, do bem e do belo num só, do mal e do feio como parasita que teria de ser combatido e metido de lado, como fazendo parte de um processo de exclusão social, já que na história a sociedade era a realidade, portanto, a irmandade. Como me deleito ao recordar a história e a passar para a acção todas aquelas belas expressões do bem. Como me deleito, sozinho, a faze-lo. Cantar, rir com vontade, canto e rio verdadeiramente do belo e do bem! Mas a edificação desta história caiu por terra; afinal, qual o lugar da irmandade? Convençam-me no mínimo que noutro lar, em todos os lares, todos o fazem.
     Certo dia, contaram-me outra história.

     Escrito a 07 de Dezembro de 2009.

12 de dezembro de 2009

Um espírito. Um consumismo.

    
     Aos meus olhos, um absurdo. Um espírito escuro, enferrujado, repetitivo, repetição essa levada ao extremo. Perna direita, perna esquerda, o mês anterior, perna esquerda e só depois a direita.
     Hoje, ontem e até amanhã, cabeleireiras transbordam; incrível! Mais, aquele cheiro a suor que transborda das perfumarias, cheiro que daqui a um mês se volta a transformar noutro mar de rosas violetas, roxas, ou até de cor lilás.
     Um rebuçado no café, ano após ano, mais um ano, outro chocolatinho que nos causa a mais que típica e ordinária dor de barriga, dor, dor essa que acima e pior de tudo, é comum; bem, ou melhor, é comum a todos aqueles que não se ficam pelo café.
     Homens e mulheres que ficam com o sorriso amarelo, esse também comum e ordinário; os olhos, cintilantes, expressando uma aparente vida feliz como se cheia de triunfais recordações e amigos fosse. Ou estes olhos me estão a enganar, ou pelas estrelas nas ruas e todas estas luzes somando à leitura comportamental das pessoas, é Natal, mais um ano.
     Vasculhando as gavetas, a minha Avó um dia contou-me um episódio parecido com este, parecido na sintaxe, tão diferente na semântica, sem tanto de normalidade, sem este tanto de ordinário. No entanto, impossível de deixar de lado com um sorriso e olhar optimista digno desta “época natalícia”, a indagação que me perturba; a minha Avó mentiu-me? Não, julgo que me ocultou a verdade, ou apenas me narrou o episódio num espaço temporal que não conheço, que apenas aspiro.
     Ao invés, é mais fácil olhar o calendário na noite anterior, e de manhã acordar com o sorriso.

     Escrito a 4 de Dezembro de 2009.

Mais um.

    
     Mais um; de tantos, este que por fim, ou mais por início, decidi escrever.
     Aceso, sentidos receptivos. No entretanto, sentidos direccionados, desatentos, sentindo o prazer, o último antes da deita. No impasse do final, uma dor uníssona, ressoante, aguda, o último suspiro, construindo o ultimo nevoeiro meu, só meu, nesta noite de frio cristalino. Frio cristalino, esse que notado única e somente no final, ao mesmo tempo que um cheiro que não gosto, um cheiro que gostaria de ter sempre oportunidade de sentir. Só no final. Manga gélida, consequência do arremesso, do cuidado extra com o despertar e a abertura dos sentidos, do pouco resto de prudência que resta. A cada um que vou apagando, um pouco me leva desta prudência que me caracteriza, que como dito, aos poucos deixa de caracterizar.
     Sem entrar na mais-valia da poeira em mim, senti neste trovão novamente a pergunta, arrebatadora, da qual estou meramente e simplesmente cansado; será desta? Não me parece tal.
     Quase conseguida a sobrevivência a um ano mais. Encontro em meu ser traços de sempre, e porque isto me incomoda, levo de mim o sermão acerca de não me agarrar. Sou justo comigo nesta condição? Ou mereço o que mais quero ouvir? Uma espécie de desculpa, ou porventura um perdão.

     Escrito a 18 de Novembro de 2009.

Olho, vejo?

    
     Olho ao espelho vejo um monstro, olho ao espelho vejo-me, olho ao espelho não consigo ver, olho ao espelho vejo virtude, determinação. São raras as vezes que olho e vejo no espelho. Olho para dentro vejo turvo. São frequentes as vezes em que vejo turvo. Olho, vejo, uma página de adolescente ordinário, olho, vejo, uma página de adolescente de fundo diferente. Conciso? Do início; estou sem determinação, estou com desmotivação, estou eu. Bom? Mau? É a minha condição. Será amanhã a mudança? Será todos os dias a mudança radical sem que dê por ela? Será agora? Terá sido ontem? Não me parece. Será que olhei e não vi a dita cuja mudança que talvez em vão espero? Perdido no devaneio? Concreto? Do início; se devido à adolescência, esta nunca mais passa? Se devido a outra razão, apenas me ocorre a minha condição, serei assim? Sempre??? Não espero por mais, trabalhar, deixar de estudar!? Mas será em vão? Enfim, esta é minha condição. Repetitivo. Sem nexo. Desordeiro, caótico? E mais uma indagação, quando vou encontrar a linha coerente e ordeira, no caos de minha mente que turva e caótica a reconheço? 

     Escrito a 14 de Outubro de 2009.

9 de dezembro de 2009

Que vale a pena.

    
     O que vale a pena? Parei aqui pelo gosto, pelo gosto de saber, por buscar um sentido, pelo que cultivei perante uma introdução à Filosofia durante o secundário mais aquilo que por aqui e ali fui lendo, sempre que à noite o sono não chegava. Agora, nesta derradeira oportunidade de entrar em algo mais complexo, e ao mesmo tempo mais agradável e prazeroso, pelo qual tenho imensa consideração, a licenciatura em Filosofia, começo a pensar: Vale a pena? Uns dizem que substitui as questões como um todo, pelas quais me apaixonei, por questões de âmbito mais específico, outros dizem que ao invés de nutrir um amor ao saber uso o saber para chegar ao amor, será que tenho o interruptor da introspecção avariado? Será algo externo a mim que me faz perguntar a mim mesmo vezes sem conta, sempre que à noite o sono não chega: O que vale a pena? Sofro assim de influências externas que me fazem perguntar se vale a pena, mas que influências são essas? Muitas, toda a gente, ou quase toda a gente, toda e tanta gente que não pensa num todo, num sentido, nessas coisas secantes e sem interesse na óptica deles… Serão assim mais felizes essas pessoas? É verdade que me preocupa a busca da felicidade, a busca do que vale a pena ser pensado, se é que dá frutos isso, ou isto, de pensar.
     Desejo chegar a um ponto em que me sinta em plenitude com os meus objectivos, chegar ao fim e poder pensar sempre que à noite o sono não chega, sim, vale a pena.


     Escrito a 17 de Março de 2009.