Aos meus olhos, um absurdo. Um espírito escuro, enferrujado, repetitivo, repetição essa levada ao extremo. Perna direita, perna esquerda, o mês anterior, perna esquerda e só depois a direita.
Hoje, ontem e até amanhã, cabeleireiras transbordam; incrível! Mais, aquele cheiro a suor que transborda das perfumarias, cheiro que daqui a um mês se volta a transformar noutro mar de rosas violetas, roxas, ou até de cor lilás.
Um rebuçado no café, ano após ano, mais um ano, outro chocolatinho que nos causa a mais que típica e ordinária dor de barriga, dor, dor essa que acima e pior de tudo, é comum; bem, ou melhor, é comum a todos aqueles que não se ficam pelo café.
Homens e mulheres que ficam com o sorriso amarelo, esse também comum e ordinário; os olhos, cintilantes, expressando uma aparente vida feliz como se cheia de triunfais recordações e amigos fosse. Ou estes olhos me estão a enganar, ou pelas estrelas nas ruas e todas estas luzes somando à leitura comportamental das pessoas, é Natal, mais um ano.
Vasculhando as gavetas, a minha Avó um dia contou-me um episódio parecido com este, parecido na sintaxe, tão diferente na semântica, sem tanto de normalidade, sem este tanto de ordinário. No entanto, impossível de deixar de lado com um sorriso e olhar optimista digno desta “época natalícia”, a indagação que me perturba; a minha Avó mentiu-me? Não, julgo que me ocultou a verdade, ou apenas me narrou o episódio num espaço temporal que não conheço, que apenas aspiro.
Ao invés, é mais fácil olhar o calendário na noite anterior, e de manhã acordar com o sorriso.
Escrito a 4 de Dezembro de 2009.